Mês do Teatro - entrevista a Sapo

quinta-feira, 25 de março de 2010

Adriano Reis: Porque nem só de teatro vive o Homem

Adriano Reis: Porque nem só de teatro vive o Homem

25 de Março de 2010, 12:24

Adriano Reis é um dos rostos africanos que podemos ver nos palcos portugueses. A residir em Lisboa há seis anos, este cabo-verdiano nascido em Angola tem vivido entre o palco e a mediação cultural que faz na associação Afrunido em Cacém, Sintra, além de dirigir workshops de teatro em locais diferentes.


Isso porque, como explica, é impossível um africano viver apenas do teatro em Portugal: “Sem ser ofensivo, somos actores temáticos. Quando há trabalhos específicos para a comunidade negra em Portugal, aparece qualquer coisa”.
Apesar disso, reconhece que há uma evolução na forma como é encarado o “negro” em Portugal. Nas produções audiovisuais já é possível ver uma ou outra cara africana, principalmente em telenovelas, séries e filmes. Mas, ironia das ironias, ele raramente é convidado a fazer algum papel.


E tem uma explicação curiosa: “Costumo brincar com isto e dizer que não sou considerado um “negro” a sério. O aspecto físico conta muito e eu, por não ser tão escuro, por não ter características tão marcantes, não encaixo no que os produtores pretendem”, justifica.
Mesmo assim já desempenhou papeis importantes: participou na telenovela "A Outra", da TVI onde interpretou o papel de um chefe de polícia moçambicano, entrou também na série infantil “Detective Maravilha” onde o seu personagem era um emigrante ilegal. Já fez também publicidade, entrou em vários filmes.


Mas o que gosta mesmo de fazer é teatro. Trabalhou com nomes importantes como Maria do Céu Guerra, Miguel Seabra, no Teatro São Luís. E é com orgulho que elege a peço “O monólogo do Vaqueiro”, de Gil Vicente, aquele que mais gostou de fazer, pelo trabalho, pela dificuldade e por poder trabalhar um texto de um dos nomes incontornáveis da cultura portuguesa.



Actor e formador
Para alargar os seus horizontes, Adriano Reis não se tem limitado a trabalhar em Portugal. De quando em vez vai a Cabo Verde participar no Mindelact, Festival Internacional de Teatro .


Mas também tem trabalho fora de Portugal, junto das comunidades cabo-verdianas na Europa, como no Luxemburgo, Itália, Holanda, Franca. Foi numa das recentes viagens que lhe aconteceu algo curioso, em Milão: “Estava a fazer teatro de rua e fui corrido pela polícia”, conta. O actor mostra-se disponível para trabalhar junto das comunidades cabo-verdianas no estrangeiro.
Fora do palco, Adriano Reis é mediador cultural mas também formador. Neste momento está a trabalhar juntamente com duas juntas de freguesia em Lisboa onde dirige workshops de teatro.


Na associação Afrunido, é mediador cultural, funcionando como um facilitador nos contactos entre os sócios e entidades, ajudando na burocracia. E mostra-se disponível para trabalhar com as juntas de freguesia, onde possa ensinar o que aprendeu em Cabo Verde e em Portugal, países onde fez a sua formação como actor.

Durante o mês de Março, Mês do Teatro, Adriano Reis teve o seu próprio programa: foi monitor num workshop no Seixal, Portugal, no final de Fevereiro; declamou poesia em Itália na Associação Crioulos de Milão, onde fez também teatro de Rua. E nos dias 27 e 28 irá administrar um workshop de teatro e expressão dramática corporal na Escola de Dança Steps. Encerra o seu programa a 3 de Abril, com um espectáculo em Almada, na Associação Cretcheu.

O actor tem um blog, Palco da Vida, onde reúne informações sobre os seus trabalhos.




Evandro Delgado
Fonte: www.sapo.cv