Teatro Cabo-verdeano

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Estive a ler este texto no site porton di nos ilha achei fantástico que resolvi partilha-lho convosco

Teatro Cabo Verde
O Teatro em Cabo Verde remonta aos primórdios da época colonial, sobretudo o teatro de raiz popular e religiosa, ligado aos rituais de trabalho e aos rituais sagrados. A representatividade cénica cabo-verdeana igualmente oriunda do teatro medieval português e do teatro africano inscrita no papel do Griot. Desse encontro, emerge essencialmente a comédia popular.



Falar do teatro em Cabo Verde há que lançar mão de uma concepção alargada de actividade teatral para podermos incluir nela certas manifestações lúdicas e cénicas... a peça de teatro é a que tem um enredo, personagens, um cenário e um público. Essa redefinição conceptual permite abordar tempos e manifestações que uma conceptualização mais restrita e restritiva, mas também mais etnocêntrica da actividade, não consentiria. Antes do século XIX e da monarquia constitucional que, sob a influência das Luzes, inaugurou um movimento de modernização da sociedade cabo-verdiana, que, como veremos mais a frente, fez surgir entre nós sociedades recreativas e culturais. Portanto, antes das reformas oitocentistas que lançam o ensino público, a imprensa, a burocratização do Estado e as elites letradas. Neste tempo inicial, mas matricial por imprimir marcas indeléveis à nossa identidade colectiva.

A igreja, por sua vez, sempre se serviu do teatro para conquistar leigos, sobretudo quando vinham de outras culturas e outras religiosidades. O bispo, o cabido, as ordens religiosas serviram-se do teatro para cristianizar e doutrinar, é verdade. Mas não havia provavelmente dimensão da vida que fosse objecto de maior teatralização do que a morte. A morte na velha Ribeira Grande era uma opera encenada. Os morgados, os grandes comerciantes ou mesmo gente da governança planeavam o seu funeral ao pormenor: actores principais, secundários e figurantes; canções, choros, preces e novenas; guarda-roupas especiais e percursos delineados. Tudo parece espectacular e ostentatório. O teatro da morte era arma contra a ideia absurda da morte, que é a do olvido, da corrupção do tempo, do desaparecimento eterno. A teatralização da morte visa perpetuar a memória da vida dos grandes, "enquanto o mundo durar", como se pode ler nos imensos testamentos a que tive acesso nas minhas buscas históricas. Isso era o que se pode chamar de teatro "par le haut".

Havia igualmente na Cidade Velha o teatro social dos pobres e dos privados de poder. É o teatro "par le bas". Os forros organizavam o foro (a cinza), o Reinado (com as suas hierarquias, personagens, indumentárias, desfiles) e as zambunas. É para o Reinado, talvez mais do que para a Tabanca, que vai o crédito de ser, segundo João Branco, "o primeiro fenómeno consciente de teatralização genuinamente cabo-verdiano"

A Sociedade Liberal, sob as influências das Luzes, da ideia da cidadania, do ideário da integração das colónias numa grande fraternidade que seria o Império Português, vai dar um novo impulso ao teatro no arquipélago. Estamos sob o impacto da Imprensa e da criação recente do Sistema Escolar. Do surgimento dos clubes de Maçonaria. Da instituição das eleições.

Fonte: Porton di nos ilha - Morabeza e Qualidade